Era uma vez uma fada.
Uma fada daquelas cantadas em música, nua e lourinha. Rodopiante, girava pelo mundo plantando alegrias, colhendo sorrisos, numa doce dança mágica. Livre, mais leve que o próprio ar, suas asas eram do tamanho do universo, batendo ritmadas aos pulsos do coração. Travessa, tinha no sorriso malicioso um mau humor fresco.
Sempre a via. Todas as horas. Não sei bem ao certo quando foi que ela desapareceu. Sei que senti saudade do cheiro que ela deixava pelo ar, da voz conversada baixinha para que ninguém mais a escutasse falando de seus segredos, do nosso acordo tácito de cumplicidade.
Numa dessas situações inexplicáveis do destino, ouvi alguém chamando-a. Escutando seu nome, gritei por ela, como se fosse a única saída que me restasse no labirinto da vida. Pude então sentí-la tão perto, como se tivesse morado sempre dentro de mim. Chamei pelo seu nome e pude vê-la "pirlimpipando" pó encantado do seu saquinho para todos os lados bem diante dos meu olhos. A minha alma cantou com uma alegria desmaiante!
Arrisquei indagá-la porque havia me abandonado, me deixando tão sozinha, para minha surpresa ela respondeu:
-Jamais te abandonei. Estive bem aqui todo esse tempo. Apenas quis ver o quanto você realmente me amava, se sentiria minha falta. Sou verdadeiramente uma fada, e fadas são egoístas.
Daqui do seu lado, fui feliz ao te ver crescer, ao te ver querer o mundo, e te ver indo buscá-lo.
Amei com você quando achou o seu verdadeiro amor. Me regozijei ao te ver encantada, completamente entregue a esse pequeno anjo que os céus te enviou.
Sofri quando vi os dragões te atacarem, e chorei quando sofreu, porque achava que eles não existissem.
Empunhei armas em suas mãos, quando deixou cair as tuas, entregando-te completamente aos teus inimigos.
Cantei músicas em teu ouvido para te lembrar que existe a poesia. Te contei histórias mágicas, te contei milagres.
Me mostrei pra quem quis me ver, com a esperança de que essas pessoas te fizessem lembrar de mim.
Paralisada, fiquei ali olhando dentro daqueles pequenos olhos verdes, sem coragem de dizer algo. Invadida por aquela realidade, lágrimas misturadas de alegria e saudade desciam assim, totalmente sem direção. Rolavam despreocupadas novamente, percorrendo o caminho que sempre foi delas.
Lembrei-me então de um segredo do reino encantado de onde as fadas vieram:
Minha fada não morreu! Apenas se escondeu de mim!
Porque fadas só morrem quando deixamos de acreditar nelas.
Bem-vinda novamente, minha querida fada! Me pegue pela mão ao cair a noite e me leve a sonhar para os lugares mais lindos...
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