terça-feira, 19 de abril de 2011

O cérebro é uma coisa maravilhosa! Todos deveriam ter um!

sábado, 2 de abril de 2011

Diamantes

Toda manhã, procuro uma padaria pro café. Como me alegra andar pelos bairros, e achar uma portinha aberta com uma luz um pouco indecisa, a pensar se ilumina ou não o que tem lá dentro. Balcões abarrotados de açúcares, uma limpeza digna e um cheiro de pão assando que traz a pauta completa de uma melodia vivida há tantos anos. A infância naquelas ruas de pedra, com suas lajes entrecortadas, desenhando um enorme mosaico numa cidade só de ladeiras. Das grandes janelas emolduradas, de suas eiras e beiras, emanava um cheiro tão peculiar de madeira velha misturado com tacho de cobre quente, salpicado com doce de banana e canela. Certo que foi esse cheiro que me deu, tão nova, a certeza do caminho a seguir. Pois, da papelaria da rua de trás, que se chegava atravessando o Beco das Caveiras, já era dona e me perdia horas e horas entre lápis e papéis, em rabiscos de fachadas e jardins. Nas úmidas tardes de mesa posta pro café, um pedido me levava até a padaria mais próxima, que não era tão próxima assim, contada a passos de menina. Com uma felicidade imensa, pegava aquele pacote de pão feito brasa, embrulhado e amarrado com barbante e pelo atalho, corria. Corria tanto, até que a porta sem maçaneta se abrisse, e daquela linda casinha de bonecas com janelas azuis saía um cheiro quente de chocolate com leite, servido no bule gordo de alumínio. Sentada à mesa, o pão com manteiga derretida hoje é o mesmo das minhas padarias de bairro. É o mesmo, só que recheado de gratidão, de amor de filha, de amor de mãe.

Outono

Começo meu dia cedo. Gosto que seja assim. Gosto de passar pelas ruas e encontrar as pessoas começando tudo, de banho tomado. Gosto de sentir os perfumes e o cheiro de sabonetes. Gosto de ver calças passadas e cabelos molhados. Gosto de ver as caras limpas, cheias de fé para enfrentar a batalha.
Gosto ainda mais especialmente no outono. Esse vento suave e um pouco gelado que atravessa o rosto, como se quisesse entrar também pelos olhos, com todo azulado fresco do céu. Passear a pé no outono é como andar de bicicleta nas outras estações. É como descer correndo o morro de sua casa, debaixo de uma chuva fina com o sol batendo de lado, os braços bem abertos, certa de que vai voar cinco passos à frente. É como rodar, rodar, rodar, ao som da música mais bela, e cair sem forças, rindo da vida.