sábado, 2 de abril de 2011

Diamantes

Toda manhã, procuro uma padaria pro café. Como me alegra andar pelos bairros, e achar uma portinha aberta com uma luz um pouco indecisa, a pensar se ilumina ou não o que tem lá dentro. Balcões abarrotados de açúcares, uma limpeza digna e um cheiro de pão assando que traz a pauta completa de uma melodia vivida há tantos anos. A infância naquelas ruas de pedra, com suas lajes entrecortadas, desenhando um enorme mosaico numa cidade só de ladeiras. Das grandes janelas emolduradas, de suas eiras e beiras, emanava um cheiro tão peculiar de madeira velha misturado com tacho de cobre quente, salpicado com doce de banana e canela. Certo que foi esse cheiro que me deu, tão nova, a certeza do caminho a seguir. Pois, da papelaria da rua de trás, que se chegava atravessando o Beco das Caveiras, já era dona e me perdia horas e horas entre lápis e papéis, em rabiscos de fachadas e jardins. Nas úmidas tardes de mesa posta pro café, um pedido me levava até a padaria mais próxima, que não era tão próxima assim, contada a passos de menina. Com uma felicidade imensa, pegava aquele pacote de pão feito brasa, embrulhado e amarrado com barbante e pelo atalho, corria. Corria tanto, até que a porta sem maçaneta se abrisse, e daquela linda casinha de bonecas com janelas azuis saía um cheiro quente de chocolate com leite, servido no bule gordo de alumínio. Sentada à mesa, o pão com manteiga derretida hoje é o mesmo das minhas padarias de bairro. É o mesmo, só que recheado de gratidão, de amor de filha, de amor de mãe.

2 comentários:

  1. Adoro padaria, vou pra comprar pão e volto sempre com algo a mais, me perco, é quase um parque de diversões, e esse post me deu uma fome danada, fome de chá da tarde! Um chá maravilhoso que um amigo fazia quando morava em Goiás... Ai que saudade.
    Bêjoo

    P.S. Gostei muito do post do outono também!

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  2. Padaria é um caso seríssimo!!!
    Valeu, Paulinha!
    Beijooo

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